terça-feira, 11 de março de 2008

Sempre se ceifam vidas... e se colhe o que?

No blogue anterior, cheguei a escrever sobre uma certa denominação evangélica internacional bastante obscura e maquiavélica que é bastante forte aqui em Foz. Uma vez livre do meu trabalho de então, que era ligado à essa “igreja”, acreditei que me manteria distante de suas falcatruas, idiossincrasias, incoerências e contos de crueldade operada através da manipulação da fé. As últimas semanas vêm me dando provas de que eu estava muito enganado a respeito disso.

Comecemos pelo pastor da dita igreja: não obstante seu salário de R$ 15.000,00 (quinze mil reais, para quem ficou em dúvida quanto aos algarismos), ele teve suas viagens de “evangelização” ao Canadá e à Terra Santa paga pelas coletas feitas entre os fiéis. Até aí, nada que uma grande empresa não pague a um executivo. Mas assim como o capitalismo nos faz crer que o executivo viaja para trabalhar, a religião nos leva a pensar que o missionário viaja para cumprir sua sempre questionável missão de “evangelizar” ou mesmo “estudar para a evangelização”. Se uma empresa constata que o tal diretor usou da viagem para obter ganho pessoal e negligenciou o trabalho, isso rende uma justa causa e um processo. Como a denominação em questão se pretende extorsiva e desejosa de lucros abusivos, não foi surpresa nenhuma saber que o pastor passou mais tempo em cassinos e bunkers suspeitos que em casas de oração ou seminários. Fontes próximas garantem até uma escala em Orlando para conhecer a Disney – quem sabe eles queriam converter o Mickey e a Minnie, que dão mau exemplo dos valores cristãos através de sua relação domiciliar e não-conjugal? Embora eu ache mais fácil crer que eles queriam mesmo era “ceifar” o Tio Patinhas e seus bilhões. Ia dar algum trabalho converter as patacas em reais, mas confio que eles achariam um meio.

Ora, mas qual igreja não vive dessas coisas? – perguntará o cético de senso comum. Então deixe-me dar um pouco mais. Que tal o pastor entrando completamente embriagado com uma menor de idade em um dos hotéis mais luxuosos da cidade, exigindo uma suíte para passar a noite? Diante das negativas do recepcionista, que argumentava dizendo que menores não podem hospedar-se sem autorização dos pais, ele recorreu às suas credenciais: “eu sou o Pastor Fulano e exijo esse quarto” (transcrição não-exata, seu discurso teria sido um pouco mais extenso, eloqüente e intimidatório). Detalhe: o recepcionista era um fiel de sua igreja até então. Era.

Estou contando essas histórias todas por mero achincalhe ou por moralismo? Nenhum dos dois. É que continua me incomodando o uso do discurso religioso para arrogar a alguém o direito de manipular, menosprezar e até desfazer-se da vida das pessoas, aproveitando brechas na fragilidade de cada um para cravar ali dentro a imagem de um Deus monstruoso que salva ao mesmo tempo que castra e ameaça, justamente para que uns poucos “homens desse Deus” possam aproveitar-se de tudo aquilo que condenam em sua retórica: conforto material, prazeres mundanos, soberba, fartura, vaidade.

Estava em um aniversário ontem, na presença de pessoas queridas – várias dessas, ex-fiéis dessa igreja. Uma delas, uma jovem muito bonita e geralmente de trato agradável, foi lançada numa espiral de paranóia e anti-depressivos que, embora bastante amenizada, não se desfez por completo até hoje. Ela era uma das “lideranças jovens” na tal igreja, posto até onde chegou tendo que dar um “testemunho de cura e libertação” da vida sexualmente promíscua (para os padrões deles) que ela levava. Não muito tempo depois disso, o pastor – aquele do hotel – disse a ela que “gostaria de invadir seu apartamento e estuprá-la para que você fosse minha e de mais ninguém”. Isso foi o ponto culminante de outros eventos quase tão temerosos quanto, que não transcrevo nem insinuo aqui para preservar a identidade da moça. Detalhe: o pastor é casado e pai de duas crianças.

Enfim, eu planejava escrever esse texto listando esses e outros fatos, sem entrar muito em qualquer análise. Não consigo. Isso já me dói o suficiente e é melhor eu parar por aqui.

3 comentários:

Unknown disse...

Opa! Sou eu mesmo, o moço!
Aqueles teclados estranham surgiram da cabeça que vos escreve, haha.
Saudades do Johnz. Mas Carona era a melhor.
=P
Abraço!

Unknown disse...

Estranhos*
Parece que a dislexia nos pegou de jeito hoje.

Túlio disse...

Sou evangélico e sei muito bem o que você diz. Cada esquina tem uma igreja e os maus exemplos acabam aparecendo muito mais que os bons... Existem certas denominações que claramente exploram a ignorância dos fiéis. Uma pena mesmo que essa acabe se tornando a principal característica lembrada quando se fala nos evangélicos. Um dos poucos teólogos que admiro é o Rubem Alves, um cara que deixou de ser pastor sem deixar suas crenças de lado. Recomendo!