sábado, 23 de fevereiro de 2008

Os doze discos da década... antes que ela termine!

A explicação do caráter pessoal das listas me parece desnecessária para introduzir essa aqui, mas acho que convém dizer que não baseei essa escolha em critérios “racionais” (“importância” ou mesmo “qualidade” do disco) porque música não é nada racional – pelo menos para quem a ouve (quem a faz pode até mesmo ser terrivelmente racional). Escolhi os álbuns aqui listados pelo prazer que eles me proporcionam, pelo afeto que sinto de suas canções; pela alegria, paz ou desafios que sua audição me proporciona. Assim, até mesmo grandes bandas como Twilight Singers, Nick Cave and The Bad Seeds ou Dirty Three, e mesmo favoritos meus como Everclear e U2, não estão aqui relacionados – estão entre os meus favoritos, mas não entre os mais queridos.
Piegas? Não me interessa. É uma listagem que compartilho aqui. Em parte, espero que ela mude até o fim da década, pois isso significa mais & melhores discos emoldurando mais & melhores dias. Olha que até tem uns pretendentes se insinuando por aqui... Mas fiquemos com a seleção atual:

1) Good News For People Who Love Bad News, Modest Mouse. “Esse disco? O que esses “ratos” têm que mereça esse posto?” Se você já ouviu esse disco sustenta essas perguntas baseadas no pressuposto de que superestimo o disco, reconheço que você possa estar parcialmente certo, mas isso não altera em nada minha opinião tampouco meu afeto para esse compilado de canções que – escrevo isso sinceramente – me devolveu a alegria de viver, e também a de descobrir novos sons. Sabe como é, um dia a gente precisa sair do abismo, e Good News... foi a trilha sonora da minha escalada.

2) Nixon, Lambchop. “The guy in the cross / is holier than I / but then again, he’s made of plastic”. Um disco cuja canção de abertura (“The Old Gum Shoe”) traz esses versos já mereceria atenção especial, mas em suas dez faixas que funcionam como uma egotrip do compositor Kurt Wagner (nenhuma relação com seu homônimo, o Noturno, dos X-Men), Nixon equilibra soul com sotaque country num disco às vezes sensual, às vezes introspectivo – e por outras ocasiões ainda, contemplativo e plácido. E bonito pra caralho. Sublinhou um dos romances mais intensos da minha vida e marcou o início de uma bela amizade com o trompetista Johnathan Marx.

3) Anoche, Babasónicos. De todo o meu mergulho (ainda algo cauteloso) no rock em espanhol, mais notadamente o argentino, a melhor visão obtida foi esse conciso álbum de pop luxuoso e algo perverso, cheio de detalhes musicais, baixos cortantes (saudações à Gabo Manelli, que já não está mais entre nós) e a poesia escapista e ocasionalmente grandiloqûente do pernilongo humano Adrián Rodríguez. Talvez o disco que mais escutei na década (até o presente momento, novamente).

4) Shadows Collide with People, John Frusciante. Sabe aquela “ascensão do abismo” que eu comentei há pouco? Consta que John estava passando por um processo desses, se trancou com um amigo no estúdio de sua casa e fez nada menos que sete discos em um ano. O melhor e mais impressionante desses é esse, que a partir de seu título confronta o imponderável com aquilo que é humano, demasiado humano – tudo numa moldura musical psicodélica, original e muitas vezes sentida, como nas cortantes “Regret” e “Omission”. E – o melhor – tudo com uma certa ponta de esperança, fé torta (“sending a dummy to my god”, canta ele) e a voz inigualavelmente bela e trêmula de Frusciante.

5) Yoshimi Battles The Pink Robots, The Flaming Lips. Porque tem “Do You Realize?”, a música com a letra mais linda de todos os tempos (“In My Life” é hors-concours); porque eu me lembro de ver o sol surgindo em meio ao mormaço nublado na Serra da Mantiqueira enquanto “Fight Test” sae entranhava na minha alma e lutava para mandar dores e desânimo embora; porque tem “Are You a Hypnotist?”, que faz tudo que os Birds queriam fazer com “Eight Miles High”, meio que uma “Tomorrow Never Knows” para esses anos, só que melhor. Porque depois desse disco, nem Wayne Coyne tem mais do que se queixar.

6) By The Way, Red Hot Chili Peppers. Eu não tenho a obrigação de ser desconcertantemente original. Na verdade, posso ser bastante óbvio. E antes que os Chili Peppers começassem a fazer a mesma música o tempo todo, By The Way trouxe “Dosed”, “Universally Speaking” e outras belezas, num disco praieiro, levemente melancólico e perfeitamente executado, com mais sensibilidade que arroubos instrumentais. E o clipe de “The Zephyr Song” é lindo, um exemplo de como a mulher certa (e um diretor inteligente) podem dar sentido e beleza à uma letra tola.

7) The Mix-Up, Beastie Boys. Sou meio ruim para comentar discos instrumentais, acabo caindo numa imprecisão terrível, cheia de adjetivos que não dão conta de expressar o que realmente as composições me transmitiram. Então, deixemos assim: eu levaria esse para uma ilha deserta. Fácil.

8) Know Your Enemy, Manic Street Preachers. Mal o escuto hoje em dia, mas não dá para negar que esse pegou pesado por sua descrença no que chamamos de "sociedade". Apesar do panfletarismo constrangedor de "Baby Elian", o disco tinha uma selvageria demolidora nas letras de "Freedom of Speech Won't Feed My Children" e "Dead Martyrs", além de ser altamente anti-hedonista, agressivo (existe uma disco song mais ácida que "Miss Europa Disco Dancer" e sua coda repetindo "braindead motherfuckers"?) e com um sentimento de entrega desesperada pela vida.

9) Capricornia, Midnight Oil. O Oil sempre foi (e por muito tempo será, provavelmente enquanto eu caminhar na terra) um dos habitantes do meu Top 3, independente de quem sejam os outros dois. É uma das minhas “bandas recorrentes”, aquelas que, mesmo passando longo períodos sem ouvi-la, nunca abandonam meu coração e um respeito. Esse não é meu disco preferido da banda (posto que fica com Breathe, da década anterior), mas é o melhor dos australianos nos últimos anos – e ainda por cima, o canto do cisne para o quinteto. E tem “Tone Poem” e “Under The Overpass”. Não é pouco.

10) Yankee Hotel Foxtrot, Wilco. "I Am Trying to Break Your Heart", canta Jeff Tweedy na abertura. Ele conseguiu. Fecha com "Reservations" ("I got reservations / about so many things / but not about you") e tem no meio "Jesus, etc". Um disco para quando as noites solitárias viram prazer e beleza.

11) Baby, I’m Bored, Evan Dando. Fora It’s A Shame about Ray, nunca fui fã dos Lemonheads, mas o único disco solo digno de nota do seu detonadíssimo líder me surpreendeu. Canções tiradas no violão ou em guitarras limpas, com aquele jeito de quem não quer nada, mas que no fim fazem a trilha de qualquer viagem rodoviária e/ou “intimista”.

12) The Mirror Conspiracy, Thievery Corporation. Por razões que a moral cristã não aprovaria, e por motivos íntimos demais para serem divulgados num blogue, mas resumamos assim: aarrrff!!

Tenho certeza que me esqueci de algum que não poderia ter esquecido. Mas quem está preocupado com exatidão?

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